Esta
frase foi a ultima manifestação do P. Mugica após a emboscada preparada que o
levou ao hospital, no ano de 1974, ocorrido em frente a Capela São Francisco em
Buenos Aires.
Entregue
durante toda sua vida, dizia que os pobres são a voz de Deus e isto abre uma
imensa compreensão do sentido e significado da fé e do amor de Cristo.
Mugica
começou cedo nesse caminho de encontro a Deus... quando chegou ao seminário se
viu, aos poucos, envolvido de uma flama
de serviço que o direcionou a desbravar o interior do país, que o manteve
próximo ao povo, no caminho simples.
Essa sacudida veio após ler a seguinte
frase:
'sin Perón no hay Patria ni
Dios. Abajo los cuervos' (= curas)".
E disse:
"La gente humilde estaba
de duelo, y si la gente humilde estaba de duelo, entonces yo estaba en la
vereda de enfrente"
Ao
se colocar como um homem comprometido com as causas sociais e humanas, começou
a incomodar aos arcebispos, padres e Hermanos da alta classe:
"se metía demasiado en política"
Passou
a exercer uma forte influencia junto aos estudantes, quando pode criar um
vinculo de amizade com os companheiros Gustavo Ramus, Abal Medina y Mario E.
Firmenich, futuros fundadores da organização peronista "Montoneros".
(participaram juntos de uma missão rural em Santa Fé no ano de 1966).
Duas
frases escutadas pelos missioneiros acompanhou o Padre Carlos em sua semeadura:
Uma viejita disse:
"A mí, qué me
vienen a hablar de Dios si me estoy muriendo de hambre";
E um hachero falou:
"yo soy la alpargata del patrón".
Os
futuros guerrilheiros afirmaram que foi ali que Mugica tomou partido pela luta.
"Señor, quiero
vivir desde ahora en adelante como un hombre libre. Quiero recordar, de una vez
y para siempre, que mi futuro está en tus manos y que tú eres mi Padre. Y
cuando me asalte el temor, el desaliento y la desconfianza, recuérdame Dios mío
que estás junto a mí, y que los hijos de mi vida están en tus manos, manos de
padre, manos de amigo, que nunca me dejarán en la estacada"
Com
sua posição pública pela defesa do peronismo, repetia com frequência os nomes
de Che Guevara, Camilo Torres e outros e criava muitos choques com o Arcebisppo
Juan Carlos Aramburu e religiosos. Esse foi o inicio da sua militância junto a
Igreja e a sociedade.
Em
1968 interrompeu suas atividades para viajar a Paris e estudar junto ao Instituto
Católico, Epistemología y Semiología; Doctrina Social de la Iglesia y Comunicación Social y Teología Pastoral. Nessa estadia, pode acompanhar os sucessos do Maio
de 68 francês, conhecer novos companheiros e ingressar no Movimento Sacerdotes
del Tercer Mundo (MSTM).
Foi
a Espanha encontrar com o General Peron e logo a Cuba, em estrito segredo.
Retornando
a Argentina, envolveu-se em muitas atividades e, no bairro de Comunicaciones
(Buenos Aires), levantou a igreja "Cristo Obreiro" onde exerceu com
toda sua intensidade as atividades pastorais com seus Hermanos da vila.
A
onda de violência que afetava a Argentina, nessa época, aumentou muito (tanto a
institucionalizada, quando a luta revolucionária). Nesse momento o Padre
Alberto Carbone, ex companheiro de Mugica na JEC, foi preso injustamente pelo assassinato
do general Aramburu. Por isso, as pressões aumentaram frente ao Padre:
"espero, en Dios,
no verme forzado jamás a abandonar el sacerdocio aunque deba resistir infinitas
presiones"
Em
27 de Dezembro de 1970 foi inaugurada a Igreja Cristo Obreiro, ambiente de militância
e visitas de muitos companheiros e pessoas conhecidas na sociedade e artistas,
o que ajudou a celebrar muitos eventos gratuitos.
Em
Dezembro de 1972, acudiu nesse lugar o General Peron, que retornou
triunfalmente a Argentina (após 18 anos de exílio). Os Hermanos da vila puderam
compartilhar seu prato com ele.
Com
o peronismo presente nas instancias do poder argentino, Mugica aceitou, sem
remuneração, ser assessor do Ministério do Bem Estar Social, mas logo se
desvinculou do cargo, por existirem discrepâncias com Lopez Rega, titular do Ministério:
"no había comunicación
entre el ministerio y los villeros"
Nisso,
Mugica e os Montoneros se distanciavam cada vez mais, principalmente após a
celebração da missa pela morte dos companheiros Aval Medina e Ramis (em 7 de
dezembro de 1973), quando expressou:
"Como dice la Biblia,
hay que dejar las armas para empuñar los arados"
Nesse
mesmo ano, apareceu um livro de sua autoria chamado "Peronismo y
Cristianismo", que reuniu uma série de trabalhos do Padre Mugica sobre o
cristianismo e socialismo, os católicos e a política e os valores dos cristãos
peronistas.
Começou
a receber ameaças de vida, e deixou claro:
"No tengo miedo de
morir. De lo único que tengo miedo es de que el Arzobispo me eche de la
Iglesia".
Em
1974 terminou de escrever o texto da "Misa para el Tercer Mundo".
No
dia 11 de maio de 1974, quando Mugica se dispunha a subir no seu carro
estacionado na Igreja San Francisco Solano, onde celebrou uma misa, recebeu
tiros de um indivíduo. Nosso amado Mugica foi levado ao hospital onde, logo,
morreu.
Contam
os hermanos do povo, que tanto o quería, que levaram o corpo em seus ombros até
o cemitério La Recoleta.
Ao
morrer.... Mugica se tornou um símbolo, é uma bandeira hasteada nos corações de
fiéis, de militantes, jovens e sensíveis seres humanos.
A
Igreja assim o recorda:
"Mugica era una
imagen transparente, una suerte de provocador de conciencias, que en nombre del
evangelio no dudaba en enfrentar a los poderosos desde la perspectiva de los
pobres. Carlos Mugica era un profeta..."
Somos
herdeiros de grandes seres que não se amedrontaram por aceitar a presença de
Deus em seu coração. Aceitar ao divino é aceitar uma luta sem fim para a liberação
da Vida.
O
caminho de uma espiritualidade militante é constante e sem trégua.. nele caíram
milhares de companheiros, mas nele seguem, outros milhares, que carregam em seu
peito a coragem, a audácia e o amor invencível que inundou heróis latino
americanos.
Aqui....
celebramos Mugica!
astreia
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