terça-feira, 19 de maio de 2015

""¡Ahora más que nunca tenemos que estar junto al pueblo!"" Padre Carlos Mugica


Esta frase foi a ultima manifestação do P. Mugica após a emboscada preparada que o levou ao hospital, no ano de 1974, ocorrido em frente a Capela São Francisco em Buenos Aires.

Entregue durante toda sua vida, dizia que os pobres são a voz de Deus e isto abre uma imensa compreensão do sentido e significado da fé e do amor de Cristo.

Mugica começou cedo nesse caminho de encontro a Deus... quando chegou ao seminário se viu, aos poucos,  envolvido de uma flama de serviço que o direcionou a desbravar o interior do país, que o manteve próximo ao povo, no caminho simples.

Essa sacudida veio após ler a seguinte frase:

'sin Perón no hay Patria ni Dios. Abajo los cuervos' (= curas)".

E disse:
"La gente humilde estaba de duelo, y si la gente humilde estaba de duelo, entonces yo estaba en la vereda de enfrente"

Ao se colocar como um homem comprometido com as causas sociais e humanas, começou a incomodar aos arcebispos, padres e Hermanos da alta classe:

"se metía demasiado en política"

Passou a exercer uma forte influencia junto aos estudantes, quando pode criar um vinculo de amizade com os companheiros Gustavo Ramus, Abal Medina y Mario E. Firmenich, futuros fundadores da organização peronista "Montoneros". (participaram juntos de uma missão rural em Santa Fé no ano de 1966).

Duas frases escutadas pelos missioneiros acompanhou o Padre Carlos em sua semeadura:

Uma viejita disse:
"A mí, qué me vienen a hablar de Dios si me estoy muriendo de hambre";

E um hachero falou:
 "yo soy la alpargata del patrón".



Os futuros guerrilheiros afirmaram que foi ali que Mugica tomou partido pela luta.

"Señor, quiero vivir desde ahora en adelante como un hombre libre. Quiero recordar, de una vez y para siempre, que mi futuro está en tus manos y que tú eres mi Padre. Y cuando me asalte el temor, el desaliento y la desconfianza, recuérdame Dios mío que estás junto a mí, y que los hijos de mi vida están en tus manos, manos de padre, manos de amigo, que nunca me dejarán en la estacada"

Com sua posição pública pela defesa do peronismo, repetia com frequência os nomes de Che Guevara, Camilo Torres e outros e criava muitos choques com o Arcebisppo Juan Carlos Aramburu e religiosos. Esse foi o inicio da sua militância junto a Igreja e a sociedade.

Em 1968 interrompeu suas atividades para viajar a Paris e estudar junto ao Instituto Católico, Epistemología y Semiología; Doctrina Social de la Iglesia y Comunicación Social y Teología Pastoral. Nessa estadia, pode acompanhar os sucessos do Maio de 68 francês, conhecer novos companheiros e ingressar no Movimento Sacerdotes del Tercer Mundo (MSTM).

Foi a Espanha encontrar com o General Peron e logo a Cuba, em estrito segredo.

Retornando a Argentina, envolveu-se em muitas atividades e, no bairro de Comunicaciones (Buenos Aires), levantou a igreja "Cristo Obreiro" onde exerceu com toda sua intensidade as atividades pastorais com seus Hermanos da vila.

A onda de violência que afetava a Argentina, nessa época, aumentou muito (tanto a institucionalizada, quando a luta revolucionária). Nesse momento o Padre Alberto Carbone, ex companheiro de Mugica na JEC, foi preso injustamente pelo assassinato do general Aramburu. Por isso, as pressões aumentaram frente ao Padre:

"espero, en Dios, no verme forzado jamás a abandonar el sacerdocio aunque deba resistir infinitas presiones"

Em 27 de Dezembro de 1970 foi inaugurada a Igreja Cristo Obreiro, ambiente de militância e visitas de muitos companheiros e pessoas conhecidas na sociedade e artistas, o que ajudou a celebrar muitos eventos gratuitos.

Em Dezembro de 1972, acudiu nesse lugar o General Peron, que retornou triunfalmente a Argentina (após 18 anos de exílio). Os Hermanos da vila puderam compartilhar seu prato com ele.

Com o peronismo presente nas instancias do poder argentino, Mugica aceitou, sem remuneração, ser assessor do Ministério do Bem Estar Social, mas logo se desvinculou do cargo, por existirem discrepâncias com Lopez Rega, titular do Ministério:

"no había comunicación entre el ministerio y los villeros"

Nisso, Mugica e os Montoneros se distanciavam cada vez mais, principalmente após a celebração da missa pela morte dos companheiros Aval Medina e Ramis (em 7 de dezembro de 1973), quando expressou:

"Como dice la Biblia, hay que dejar las armas para empuñar los arados"

Nesse mesmo ano, apareceu um livro de sua autoria chamado "Peronismo y Cristianismo", que reuniu uma série de trabalhos do Padre Mugica sobre o cristianismo e socialismo, os católicos e a política e os valores dos cristãos peronistas.

Começou a receber ameaças de vida, e deixou claro:

"No tengo miedo de morir. De lo único que tengo miedo es de que el Arzobispo me eche de la Iglesia".

Em 1974 terminou de escrever o texto da "Misa para el Tercer Mundo".

No dia 11 de maio de 1974, quando Mugica se dispunha a subir no seu carro estacionado na Igreja San Francisco Solano, onde celebrou uma misa, recebeu tiros de um indivíduo. Nosso amado Mugica foi levado ao hospital onde, logo, morreu.

Contam os hermanos do povo, que tanto o quería, que levaram o corpo em seus ombros até o cemitério La Recoleta.

Ao morrer.... Mugica se tornou um símbolo, é uma bandeira hasteada nos corações de fiéis, de militantes, jovens e sensíveis seres humanos.

A Igreja assim o recorda:

"Mugica era una imagen transparente, una suerte de provocador de conciencias, que en nombre del evangelio no dudaba en enfrentar a los poderosos desde la perspectiva de los pobres. Carlos Mugica era un profeta..."

Somos herdeiros de grandes seres que não se amedrontaram por aceitar a presença de Deus em seu coração. Aceitar ao divino é aceitar uma luta sem fim para a liberação da Vida.

O caminho de uma espiritualidade militante é constante e sem trégua.. nele caíram milhares de companheiros, mas nele seguem, outros milhares, que carregam em seu peito a coragem, a audácia e o amor invencível que inundou heróis latino americanos.

Aqui.... celebramos Mugica!

astreia


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